segunda-feira, 30 de setembro de 2013

SEMANA CONTRA A DEMOCRACIA DOS MASSACRES



Carta-convite:
SEMANA CONTRA A DEMOCRACIA DOS MASSACRES


Aos Anarquistas Contra o Racismo - ACR,
À Campanha "Eu pareço suspeito?",
À Campanha Contra a Faxina Étnica dos Círculos Palmarinos,
À Campanha Contra o Extermínio da Juventude,
À Campanha Contra o Genocídio da Juventude Negra,
À Central de Movimentos Populares (CMP),
Aos Coletivos de Comunicação Independente e Popular,
Ao Coletivo Menos Letais,
Ao Coletivo PESO,
À Comissão Estadual de Mortos e Desaparecidos de SP,
À Comissão Guarani Yvyrupa,
Aos integrantes do Comitê Contra o Genocídio da População Preta, Pobre e Periférica,
Ao Comitê pela Desmilitarização da Polícia e da Política,
Ao Comitês Populares da Copa de São Paulo,
Ao Cordão da Mentira - Quando vai acabar o Genocídio Popular?,
À Defensoria Pública de SP e aos Coletivos de Juristas Críticos de SP,
Ao Encontro Popular de Direitos Humanos e Segurança Pública - ENPOSP
Ao Fórum Municipal do Hip-Hop de SP,
Ao Fórum Popular de Saúde de SP,
À Frente Estadual de Luta Contra a Repressão,
À Marcha Mundial de Mulheres,
À Marcha das Vadias,
Ao Movimento Passe Livre São Paulo,
Ao Movimento dos Trabalhadores da Cultura - MTC
Ao Movimentos e Posses de Hip-Hop de São Paulo,
Às Organizações de Direitos Humanos realmente comprometidas com a Vida,
Às Pastorais Carcerária, do Trabalhador, da Juventude e das Favelas,
Ao Protesta,
À Rede Cultural de Solidariedade Autônoma - RECUSA,
À Rede de Mães e Familiares de Vítimas da Violência do Estado,
À Rede Estadual de Advogados e Advogadas Ativistas Populares,
Rede de Comunidades do Extremo Sul,
Aos Saraus Periféricos,
E a todos os demais movimentos e iniciativas populares de resistência ao genocídio de trabalhadores pobres, pretos e periféricos,


Faz frio em São Paulo, mas para nós não está tudo bom. Junto com a primavera, outubro traz também a memória de duas datas importantes: o dia 2 marca os 21 anos do Massacre do Carandiru, e no dia 5 completam-se 25 anos da Constituição Federal. Consideramos estas duas datas bastante simbólicas do processo de violação de direitos e de extermínio que os de baixo vivenciam cotidianamente em nosso país.


Sendo assim, nos pareceu este um momento propício para colocarmos na rua os primeiros passos públicos de uma articulação autônoma e horizontal que vem se organizando já há alguns meses para discutir a urgência da desmilitarização da polícia e de nossa sociedade. Composta por Coletivo DAR; Comitê contra o Genocídio da População Preta, Pobre e Periférica; Frente de Escracho Popular; Mães de Maio; Margens Clínicas; Periferia Ativa, Rede 2 de Outubro, e também por uma  série de indivíduos, esta articulação não é uma instituição e nem pretende fazer disputa política no sentido de autoconstrução ou disputa de espaço: queremos fortalecer o livre debate em busca da mudança da mentalidade militarista, e também fomentar ações diretas e autônomas que trabalhem neste sentido.


A partir deste entendimento, e sabendo que existem inúmeras ações, articulações, redes e iniciativas responsáveis e sérias já trabalhando no mesmo sentido em que buscamos caminhar, gostaríamos de convidá-los a se somarem e a contribuírem com a SEMANA CONTRA A DEMOCRACIA DOS MASSACRES, que organizaremos a partir do dia 2 de outubro e cuja programação segue abaixo. E também para traçar possíveis futuras estratégias de trabalho conjunto, sempre respeitando o tempo e as formas de luta de cada um.


Em 2 de outubro de 1992, no mínimo 111 homens presos e desarmados foram brutalmente executados por policiais militares fortemente armados, fato nomeado historicamente como o “Massacre do Carandiru”. Passados 21 anos, o Estado não se responsabilizou por seus atos e a política de encarceramento em massa segue escandalosamente dura e desumana. É neste sentido que nos somamos à Rede 2 de Outubro a fim de denunciar e debater as origens e o significado das terríveis condições de encarceramento, do caráter seletivo do sistema penal e prisional, do uso desmedido da violência pelo Estado com evidente corte racial e de classe, entre outras graves questões que a lembrança daqueles atos revivem.


Um quarto de século após a aprovação da suposta Constituição Cidadã, seguimos vivendo em um Estado penal-militar que implementa a “democracia dos massacres”. Os ventos de junho trouxeram novas propostas e expectativas, e cabe a nós fazer jus a estas esperanças, atuando não necessariamente a partir de unidades e consensos forçados, mas tendo como base as demandas de resistência e transformação que brotam concretamente de nosso fazer político. O convite não é para formarmos uma organização nem para disputarmos sua direção: convidamos vocês a chegarem junto na luta, a perguntar caminhando, a dizermos chega!



SEMANA CONTRA A DEMOCRACIA DOS MASSACRES


2/10 (21 anos do Massacre do Carandiru)>  PELO FIM DOS MASSACRES:


+ 10h, sindicato dos jornalistas > coletiva de imprensa com atingidos pela violência estatal


+ 17h, MASP> ato indígena> Comissão Guarani Yvyrupa
+ 17h30, teatro municipal> ato contra a militarização da Câmara, comitê contra o genocídio da população pobre e preta



5/10 (25 anos da constituição)> CONTRA O ESTADO PENAL-MILITAR


13h30> tribuna livre sobre o genocídio


15h30> memória e resistência: ato pelo fim dos massacres

EVENTO NO FACEBOOK


* Em Memória e Resistência Viva à Chacina de Acari (1990); de Matupá (1991); Massacre do Carandiru (1992); Candelária e Vigário Geral (1993); Alto da Bondade (1994); Corumbiara e Nova Brasília (1995); Eldorado dos Carajás (1996); Morro do Turano, São Gonçalo e da Favela Naval (1997); Alhandra e Maracanã (1998); Cavalaria e Vila Prudente (1999); Jacareí (2000); Caraguatatuba (2001); Castelinho, Jd. Presidente Dutra e Urso Branco (2002); Amarelinho, Via Show e Borel (2003); Unaí, Caju, Praça da Sé e Felisburgo (2004); Baixada Fluminense (2005); Crimes de Maio (2006); Complexo do Alemão (2007); Morro da Providência (2008); Canabrava (2009); Vitória da Conquista e os Crimes de Abril na Baixada Santista (2010); Praia Grande (2011); Massacre do Pinheirinho, de Saramandaia, da Aldeia Teles Pires, os Crimes de junho, julho, agosto, setembro, outubro, novembro, dezembro (2012), Chacina do Jardim Rosana, Repressão à Revolta da Catraca, Vila Funerária, Chacina da Maré, Itacaré, Viaduto José Alencar em BH, Itapevi (2013)…

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Karl Marx no Quadrante Sudoeste

Karl Marx no Quadrante Sudoeste

on 23/09/13  in OUTRAS PALAVRAS
 
130923-Ônibus Quatro horas por dia, em ônibus lotados. Considere se é possível viver criativamente, em tais condições. E pense na segregação social e étnica implicada
Ao refletir sobre geografia de São Paulo, é inevitável lembrar ideias do velho barbudo sobre natureza desumanizadora do trabalho, em sociedades segregadas
Por Juliana M. Dias
Por que algumas pessoas têm direito de usufruir da cidade, enquanto outras apenas vivem para enfrentá-la, num esforço diário por sobrevivência? O Brasil tem a imagem de ser cordial e amante da igualdade, mas ainda permanece essencialmente escravocrata e segregacionista. Basta um olhar em qualquer metrópole para vermos que a questão vem de séculos. Isto não significa um desejo de viver em eterna contemplação improdutiva, uma volta à vida bucólica e menos ainda uma crítica às sociedades industriais ou ao capitalismo, mas uma tentativa de reflexão sobre a busca pela realização profissional, o que as pessoas fazem com seu tempo livre, a sobrevivência versus a vivência. Nada disso é igual para todos, nem nunca foi.
Moro em São Paulo, no bairro do Paraíso (adjacências do Centro) e trabalho em um escritório no Brooklin (Zona Sul). Levo o mesmíssimo tempo para percorrer os 6 quilômetros de distância estando a pé ou de ônibus, exatas 1h20 – a diferença é que a pé chego com 600 calorias a menos. Isso é um sintoma de se viver em uma cidade que sucateou o seu Centro, deixando-o entregue ao abandono, onde ninguém quer morar, nem passar. O desenho urbano hoje é definido por nova região de concentração de empregos, o chamado “quadrante sudoeste” que reúne os “melhores” bairros, menores índices de mortalidade e violência, melhores serviços, temperaturas mais baixas (porque é mais arborizado), melhor infraestrutura de transporte e um chão tão caro que chega a ser irreal. É a região rica da cidade, que no Rio corresponderia à Zona Oeste. Nela, de forma geral, “ricos” moram, trabalham e precisam percorrer trajetos mínimos para acessar  todas as suas atividades de lazer — academia, shopping, pet shop. Esse quadrante abrange bairros como Pinheiros, Vila Madalena, Brooklin, Jardins e Vila Olímpia, entre outros. Esses dados e o mapa são dos estudos do professor Flavio Villaça (USP) sobre segregação.
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Entre patrões e empregados, existem diferenças fundamentais com relação ao uso da cidade nesse “quadrante sudoeste”. Os empregadores, em geral, moram e trabalham na região; têm filhos que lá estudam; deslocam-se de carro. Já os empregados chegam de áreas distantes. Muitos moram na Zona Leste, região mais populosa da cidade, que conta com apenas uma linha de metrô (que alcança poucos de seus bairros) e uma de trem metropolitano (insuficiente e muito saturada). Uma viagens de ida ou vinda estende-se frequentemente por duas horas.
Mas as pessoas que vivem em um condomínio fechado de alto padrão, no quadrante sudoeste, não o fazem por terem “corações de pedra” ou serem “vilões contra a classe trabalhadora”. É uma questão cultural. A cidade é injusta porque a distribuição de renda o é, também. As oportunidades são desiguais. Há fraturas profundas entre as classes sociais, ainda que tenhamos passado por grandes modificações nos quadros da miséria nos últimos governos.
Imagine que você é filho ou neto de alguém que, por circunstâncias diversas, fez faculdade, teve carreira profissional bem-sucedida, pode comprar casa e pagar seus estudos em uma boa escola e uma universidade. Você morou por toda a vida em uma casa no Alto de Pinheiros (exemplo de bairro rico da Zona Oeste), que um dia será sua. Nunca viveu sem carro. Mas a cidade abriga, também, filhos de sertanejo, que veio para São Paulo tentar a sorte, empregaram-se na construção civil, construíram um cômodo em um lote invadido de Parelheiros (extremo sul) e casaram-se com empregadas domésticas. Seus filhos terão estudado, por toda a vida, em uma escola municipal. Começaram a trabalhar cedo. Nunca prestaram vestibular.
Entre os privilégios ou dificuldades que marcarão a vida desses dois personagens, quais estão ligados méritos; e quais são provenientes das oportunidades que tiveram por “herança”? Quais das conquistas do primeiro personagem fazem dele um merecedor da “melhor parte” de uma cidade, que deveria ser de todos? Bons estudos costumam desembocar em boas carreiras, mesmo que isso demande grande esforço e trabalho. Onde estarão vivendo essas duas famílias e seus descendentes, até que algum deles consiga quebrar um elo dessas correntes hereditárias? E por falar em correntes, é preciso tentar adivinhar as cores das peles desses dois personagens, que você provavelmente já imaginou? Qual deles é o descendente do imigrante europeu; qual é o bisneto do escravo? Isso está incrustado na nossa cultura, simplesmente. É uma herança da nossa miscigenação intensa, porém segregada.
Quem é mais pobre mora longe do trabalho e outros destinos. Perde no transporte tempo precioso que poderia ser usado para desenvolver uma atividade intelectual ou prazerosa. É devastador o que a falta de tempo e dinheiro estudo, leitura e outras atividades culturais pode fazer com uma pessoa; mas é ainda mais devastador não ter o direito de, simplesmente, não fazer nada: não ter tempo livre para criar, produzir autonomamente, divertir-se.
Um modelo de vida urbano baseado em sacrifícios traz, além de defasagem intelectual, diversos problemas de saúde. Algumas profissões a que estão obrigadas as pessoas obrigadas ao trabalho para mera sobrevivência são desgastantes, degradantes, aborrecidas ou humilhantes. Mas a grande maioria é exercida para enriquecer alguém. Por mais que o trabalho, qualquer um, seja “edificante” (existe mérito no esforço), é preciso ter estrutura familiar e/ou financeira para desempenhar sua vida profissional com prazer, o que geralmente determina o sucesso.
Não sou comunista, mas cito aqui o barbudo alemão, para reflexão: “O trabalho é externo ao trabalhador, não pertence ao seu ser, que ele não afirma, portanto, em seu trabalho, mas nega-se nele, que não se sente bem, mas infeliz, que não desenvolve nenhuma energia física e espiritual livre, mas mortifica sua physis e arruína o seu espírito… O trabalho não é a satisfação de uma carência, mas somente um meio para satisfazer necessidades fora dele.”
É preciso ligar as peças do quebra cabeças que faz com que a cidade simplesmente só funcione para algumas pessoas. Em qual momento ela (ou elas, já que estamos falando de metrópoles brasileiras) fugiram do controle? Vivemos o paradoxo de ter que usar o carro para ir para o trabalho e ter que trabalhar para pagar o carro. Copiamos dos filmes hollyowoodianos dos anos 1950 a fascinação por automóveis, autoestradas, eletrodomésticos, consumo. Ele não é um mal em si, e é bom que muitos tenham saído da miséria e podido ter consumir, mas quando isso se faz de forma pouco consciente, baseado em desigualdade e substituindo investimentos em serviços públicos de qualidade, surge uma infelicidade quase palpável, algum tipo de angústia crônica.
Essa não é uma discussão apenas urbanística, mas profundamente íntima. Trata das relações que começaram a se desenvolver quando o Brasil incorporou as injustiças de mundo desigual num deságue doloroso e sangrento. O local onde vivemos reflete esse peso histórico, tornando o usufruto da cidade privilégio de poucos, enquanto a maioria apenas a usa como meio de subsistência.
Sim, as cidades precisam de mais metrôs, de catracas livres, do fim da cultura do automóvel, de energia limpa. Mas também precisam de periferias que sejam autônomas e estruturadas para que os destinos se invertam. E para isso as cabeças precisam deixar de ser apenas operantes para se tornarem pensantes.
Referências:
VILLAÇA, Flávio. São Paulo: segregação urbana e desigualdade. Estudos Avançados,  São Paulo ,  v. 25, n. 71, Apr.  2011.
JACOBS, Jane. Morte e Vida de Grandes Cidades. São Paulo: Martins Fontes, 2000
ENGELS, F. Do socialismo utópico ao socialismo científico. São Paulo: Global, s. d.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Trailer Verdade 12.528, lançamento em outubro!

Trailer Verdade 12.528, lançamento em outubro! from João e Maria.doc on Vimeo.

Trailer do documentário Verdade 12.528, que será lançado em outubro deste ano! Direção e produção: Paula Sacchetta e Peu Robles Montagem e finalização: André Dib Música original: André Balboni Som direto: André Mascarenhas Cor: Pedro Moscalcoff Efeitos: Alison Zago Produtora de áudio: Cabana Musicadora Realização: João e Maria.doc

domingo, 15 de setembro de 2013

Texto sobre o Lançamento do COmitê pela desmilitarização da polícia

Lançamento do Comitê pela Desmilitarização
https://www.facebook.com/events/156275361238847/?notif_t=plan_user_joined

A policia Militar no Brasil, nasceu com a ditadura militar como força
auxiliar do exército, o Ato Institucional número 5, definiu a relação
da PM com as forças armadas, definindo o chefe do exército, por
aprovação, quem são os chefes das policias estaduais.

Essa característica da policia trás uma série de distorções, que vai
da doutrina da segurança nacional e do inimigo a se combater, passando
pelo reforço de ações violentas da policia, tendo na estrutura legal o
manto da proteção, já que quem julga os policiais que cometem crimes é
a própria corporação, não garantindo nenhuma isenção desses processos.

No último período agravou muito a atuação das policias, já que a
política de segurança de forma geral é baseada no controle do povo, da
classe trabalhadora, com base no Tolerância Zero, que tem inspiração
na política de segurança nacional dos EUA!

Essa situação tende a se agravar, já que o estado brasileiro de forma
ilegal atribuiu poder de investigação e ilimitado a Força de Segurança
Nacional, podendo essa ser acionada , não só pelo governadores dos
estados, mas ministros e outros e essa "Policia" , tem sido usada para
reprimir as diversas lutas, na construção civil, indígenas ,
quilombolas etc

Outro aspecto agravante é a aprovação da lei antiterror que corre no
congresso, que um dos aspectos é a criminalização dos movimentos
sociais, criminalizando e  impedindo de vez que o povo lute por uma
sociedade melhor

Logo entendemos que desmilitarizar a policia é muito mais que a
desmilitarização da policia militar, mas é desmilitarizar e
despenalizar a vida, muito embora, desmilitarizar a policia e passar a
gestão da segurança pública para o controle popular é fundamental!

Por isso convidamos, os setores que tem discutido a repressão policial
para compor comitês pelo Brasil, para que possamos discutir que
policias que temos e que modelo de segurança que de fato garante a
segurança para o povo brasileiro.

Nesta terça-feira, lançaremos o Comitê pela Desmilitarização e para
ajudar no debate, lançaremos o documentário " Com Vandalismo" , quando
teremos um bate papo  com um dos  diretores, Bruno Xavier, para
refletir sobre o filme e pensar que ações podemos desencadear no
sentido de construir uma campanha de massa, capaz de levar   a
desmilitarização da policia!